Como os conflitos na Europa afetam as exportações e importações brasileiras

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Os impactos causados pela pandemia da Covid-19 mal tiveram tempo para cicatrização e o mundo já acompanha apreensivo um novo cenário de preocupações promovido pelas invasões russas em território ucraniano.

Além da questão humanitária, um conflito de tamanha magnitude reflete quase que instantaneamente em todas as economias do planeta, principalmente quando falamos do mercado de importação e exportação.

O primeiro grande impacto para o Brasil certamente é a variação do dólar, seguido pela alta nos preços das commodities (de petróleo, soja, trigo e milho, por exemplo). Contudo, outro fator que segue preocupando especialmente o agronegócio é a dependência interna em relação aos fertilizantes.

“…aproximadamente 70% desses insumos usados na agricultura vêm do exterior e a Rússia é a principal fornecedora, sendo 20% de nitrogenados; 28 % potássicos e 15% fosfatados”.

Segundo dados apurados pelo G1, aproximadamente 70% desses insumos usados na agricultura vêm do exterior e a Rússia é a principal fornecedora, sendo 20% de nitrogenados; 28 % potássicos e 15% fosfatados. Em relação ao cloreto de potássio especificamente, há uma certa dificuldade de encontrar outras alternativas, pois existem poucos produtores no mundo.

Lembrando que possíveis grandes impactos na compra de fertilizantes, a longo prazo, também podem refletir nas plantações de soja e milho, ou seja, dois dos principais grãos de exportação nacional.

Devido ao grau de dependência desse tipo de insumo, o impacto na oferta de fertilizantes está sendo monitorado pelo governo. Recentemente, o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento esteve com representantes de países árabes para debater a possibilidade de aumentar a exportação do produto ao Brasil.

Entre os principais fornecedores do bloco estão Marrocos, Catar, Arábia Saudita, Egito, Omã e Argélia. Juntos, eles são responsáveis por 26% dos fertilizantes importados pelo Brasil, segundo informações da Câmara de Comércio Árabe Brasileira publicadas pelo site do Ministério. O intuito do governo é incentivar que o mercado nacional se interesse em buscar essas alternativas.

Analisando por outro lado menos negativo, também há uma certa favorabilidade sazonal, pois boa parte dos produtores brasileiros que importa esses insumos costuma realizar essa operação no segundo semestre do ano. Ou seja, é possível ter um pouco mais de tempo até que as coisas fiquem mais claras no conflito.

Diversas cidades portuárias estão fechadas e a consequência nos fretes, principalmente nos marítimos, já está sendo sentida.

Um ponto que vale a pena ser ressaltado é em relação a desafios atrelados à logística. Esse foi um problema que foi se arrastando ao longo da pandemia, ocasionando atrasos, e ainda pode interferir no ritmo das exportações. Inclusive, o agravamento da pandemia na China pode impactar diretamente nessa questão. Diversas cidades portuárias estão fechadas e a consequência nos fretes, principalmente nos marítimos, já está sendo sentida. Além disso, é possível que o aumento nos insumos de energia e a própria guerra causem bloqueios ou a necessidade de mudanças nas rotas dos transportes de diversas mercadorias.

Ainda pensando nas exportações, é possível que elas sejam impactadas devido às sanções econômicas que vêm sendo anunciadas por diversos países. Contudo, o Brasil não tem um histórico em impor sanções desse tipo e muitos especialistas acreditam que não haverá uma adesão a essa prática. O mercado segue atento a novas decisões anunciadas pelo governo.


Sobre a participação da Rússia nas exportações brasileiras, a tendência é de retração, pois já era algo que estava em queda ao longo dos últimos anos, segundo dados da Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais (Secex), publicados pelo Uol Economia.

Em todos os cenários, o melhor caminho para evitar um maior desastre humanitário e econômico certamente é que esse conflito possa selar seu fim o quanto antes.